Recentemente, escrevi sobre um assunto que vem causando muito frisson: os NFTs, ou non-fungible tokens (tokens não fungíveis, numa livre adaptação para o português). Neste artigo, comentei um pouco a respeito do funcionamento da nova tecnologia e de como ela pode trazer impactos importantes para o setor do varejo. Mencionei os exemplos do mercado de luxo, que vem se aproveitando muito bem dos NFTs; falei também de marcas que utilizam o recurso para aumentar o engajamento digital de seus clientes.
Mas como tenho visto que o assunto continua super quente, decidi prosseguir a conversa. Principalmente porque os NFTs podem contribuir fortemente para a descentralização do comércio eletrônico, o que seria um verdadeiro divisor de águas para o varejo. Como mencionei antes, o avanço da tecnologia pode permitir que marcas varejistas “desviem” de intermediários como Amazon ou Mercado Livre, além de reduzir custos de transações online.
Neste texto, vou dar alguns exemplos do que considero um uso inteligente de NFTs por parte de marcas mundo afora. Até para entendermos, na prática, o funcionamento de uma tecnologia de blockchain tão “abstrata”, desenvolvida dentro do sistema de criptto moeda Ethereum.
Embora tenha se falado muito de que podemos comprar memes com os tokens não fungíveis, algumas empresas já estão conectando a tecnologia a itens virtuais como roupas e objetos de design. A ideia é provar a autenticidade e evitar falsificações. No caso das roupas, temos o exemplo da DressX, marca de moda digital que vende peças para clientes utilizarem em espaços virtuais. Com os NFTs, a empresa consegue assegurar a unicidade das peças, e assim aumentar o valor de cada item.
Já o designer argentino Andrés Reisinger vendeu, recentemente, dez peças de mobiliário digital no Nifty Gateway, um marketplace de design digital. O item mais caro foi vendido por quase 70 mil dólares, e os móveis podem ser inseridos em qualquer espaço 3D ou em jogos eletrônicos de “mundo aberto”, como Minecraft.
Empresas do mundo físico também estão fazendo usos interessantes dos NFTs. Um exemplo é a Nike, que patenteou um sistema de blockchain para seus tênis chamado CryptoKicks. Os ativos digitais criptograficamente seguros serão usados para monitorar a propriedade do calçado físico e para fornecer, ao proprietário, uma réplica digital dele para ser utilizado em mundos virtuais. Esses ativos são armazenados em um "armário digital" e a propriedade deles pode ser transferida para qualquer pessoa em qualquer momento.
E outra importante novidade veio do eBay, que passou a permitir a venda de NFTs em sua plataforma. Agora, os ativos digitais colecionáveis encontram-se lado a lado com itens físicos. A iniciativa vale apenas para categorias como música, entretenimento e artes, mas ainda assim é algo que chamou muito a atenção.
Como toda inovação que chega prometendo mundos e fundos, há algumas controvérsias em torno dos NFTs. A primeira e mais importante é que não existe uma rede comum, o que leva ao surgimento de muitas criptomoedas diferentes. Atualmente, as mais comuns são da Ethereum, mas outras tecnologias como Bitcoin já têm suas equivalentes. Para piorar, praticamente não há qualquer tipo de regulamentação ou de amparo legal para as transações.
Outro problema que apontei aqui antes, mas que vale mencionar de novo, é a questão ambiental. O armazenamento de dados de blockchain exige imensas quantidades de energia elétrica, assim como suas transações.
No entanto, se essas questões forem solucionadas, a verdade é que as aplicações de NFTs são nada menos do que infinitas. Por exemplo, no futuro, você poderia trocar seu “cérebro”, após fazer o download dele e transformá-lo em inteligência artificial, por meio do NFT. Todo o capital da sua empresa poderia ser protegido ou comercializado através da tecnologia. Ou toda a sua experiência de varejo poderia ser reimaginada em torno da descentralização e da transparência.
Vou jogar aqui apenas algumas ideias para, quem sabe, te inspirar: você pode usar os NFTs para criar edições limitadas de produtos da sua empresa, em parceria com artistas. Ou, quem sabe, criar um concurso cujo prêmio seja um NFT. Ou, ainda, arrecadar recursos ao vender algum de seus produtos mais icônicos por meio de um NFT exclusivo para seus fãs.
São apenas algumas ideias que dão a dimensão de como a tecnologia pode ajudar a transformar o segmento. Agora é hora de usar a criatividade e aproveitar para surfar essa onda que parece ter vindo com tudo e (muito) em breve se tornará parte do nosso dia a dia.